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Sinopse:
A Enterprise está a caminho de Terra
Nova, uma colônia terrestre que foi estabelecida pela Terra há 75
anos. Trata-se um dos maiores mistérios da história da
exploração espacial humana: cincos anos após se estabelecerem, os
colonos foram informados de que uma nova nave levaria mais 200
pessoas para lá, vindas da Terra. Eles recusaram e, após algumas
discussões por rádio, nunca mais se ouviu falar deles.
Como na época uma
nave levava nove anos para ir até Terra Nova e outros nove para
voltar (a distância é de aproximadamente 20 anos-luz), a agência
espacial terrestre não mandou ninguém para verificar o que havia
acontecido --até agora. Como a Enterprise é capaz de fazer o
percurso em muito menos tempo, ela agora se aproxima do planeta, na
esperança de finalmente resolver o mistério, que intriga não só
historiadores, como também entusiastas da exploração espacial,
como o alferes Travis Mayweather.
Ao chegar a Terra Nova, os sensores da Enterprise mostram que a
colônia está abandonada, e a superfície do planeta apresenta
níveis de radiação letais se a exposição for longa. Entretanto,
para algumas horas, não há perigo, o que faz Archer decidir por
descer ao planeta junto com alguns de seus oficiais. No shuttlepod o
acompanham o oficial de armamentos Reed, o piloto Mayweather e a
primeiro-oficial T'Pol. Tucker fica no comando da nave.
Durante a expedição, Reed detecta um sinal de vida --o que
aparentemente é um alienígena humanóide. Ele o persegue até a
entrada de uma caverna. Lá ele se reúne aos outros três oficiais.
Archer e Reed resolvem ir adiante, enquanto T'Pol e Mayweather
guardam a entrada.
No
interior da caverna, eles encontram vários humanóides, mas eles
reagem hostilmente, disparando contra a dupla. Durante a fuga, Reed
é atingido e fica para trás. Enquanto isso, Mayweather é atacado
na entrada da caverna, mas seu oponente é rendido inconsciente por
um tiro de pistola de fase dado por T'Pol. A oficial de ciências
faz leituras do humanóide, enquanto Archer corre para fora da
caverna, ordenando que os três se encaminhem para o shuttlepod para
voltar à Enterprise. No caminho de volta, enquanto ainda amargura o
fato de Reed ter sido deixado para trás, Archer é informado por
T'Pol de que os humanóides na verdade são humanos.
A única conclusão possível é a de que aqueles humanos são
descendentes dos antigos habitantes de Terra Nova. Ao saber disso,
Archer decide voltar e tentar novamente estabelecer contato
pacífico, apesar da agressividade deles. Graças a isso, ele
descobre que os Novans, como eles se denominam, são de fato
descendentes dos primeiros colonos. Setenta anos atrás, o
hemisfério norte do planeta foi atingido pelo choque de um cometa,
que trouxe consigo diversos materiais nocivos e radioativos --num
evento que os Novans se referem como a "chuva de veneno".
Graças ao contato agressivo que estava sendo mantido entre a Terra
e a colônia na época do impacto, os Novans acreditaram que a
catástrofe era um ataque direto feito por humanos, que pretendiam
tomar a colônia para obrigar a aceitação da nova onda de colonos.
Após o impacto, apenas as crianças com até 5 anos de idade
conseguiram sobreviver, graças à capacidade de desenvolver
resistência à radiação.
Archer tenta convencê-los do que de fato aconteceu, e da inocência
da Terra no episódio, mas os Novans estão céticos. Phlox, que
desceu com ele para verificar o estado de Reed, diagnostica câncer
de pulmão em uma das mais idosas habitantes da colônia, Nadet. Ele
se oferece para levá-la de volta à Enterprise, onde a doença
será facilmente curada. Ela e seu filho, Jamin, decidem aceitar a
proposta, contanto que Reed fique com os outros 56 colonos, na
condição de refém.
Archer aceita os
termos e os leva de volta à Enterprise, na esperança de
convencê-los de suas boas intenções. Ao chegar lá, Phlox não
tem dificuldades para curar Nadet, mas ele descobre que ela também
está sofrendo de um sério envenenamento radioativo. Apesar de
protegidos da radiação da superfície no interior das cavernas, os
Novans estão agora sofrendo pela contaminação de seus lençóis
freáticos --a água potável está irremediavelmente contaminada. O
médico informa a Archer que o único modo de salvá-los é
levá-los daquele planeta.
O capitão tenta explicar a situação a Nadet e seu filho, dessa
vez apelando para um lado emocional. Ele encontra nos bancos de
dados da nave uma antiga foto de Terra Nova, tirada pelos primeiros
colonos. Lá, Nadet aparece como uma criança de apenas 5 anos,
Bernardette, filha de uma mulher chamada Vera Culler.
Embora se reconheça na foto, Nadet e seu filho ainda estão muito
desconfiados e se recusam a abandonar o local. Enquanto se vê tendo
de decidir se realoca à força os colonos ou se os deixa morrer,
Archer é informado por Tucker de que apenas o hemisfério norte do
planeta foi afetado pelo impacto do cometa --o que abre a porta para
que os colonos sejam realocados não para outro planeta, mas apenas
para o hemisfério sul.
Archer mais uma vez tenta convencer os dois, mas eles continuam
relutantes. Eles pedem que sejam levados de volta imediatamente, sob
a pena de Reed ser executado. Desconcertado, Archer concorda. Ao
descer, entretanto, o shuttlepod pousa em um lugar pouco firme e
acaba sofrendo um acidente, caindo vários metros por uma galeria
subterrânea. O tremor causado pela queda do pod fez com que um
Novan ficasse preso sob uma árvore, enquanto o nível da água sob
ele subia cada vez mais. Com a perna quebrada, ele era incapaz de
escapar, e estava prestes a se afogar.
Enquanto
Archer, Nadet e seu filho caminhavam pelos túneis para ir ao
encontro de Reed e os outros Novans, eles ouviram os pedidos de
socorro do ferido. Para salvá-lo, Archer e Jamin precisam trabalhar
juntos, o que reforça o elo de confiança entre os dois. Após o
sucesso no salvamento, todos se encaminham para onde está Reed,
onde Nadet convence a todos de que a realocação é a única
solução para a sobrevivência de seu povo.
A Enterprise ajuda nos procedimentos, permitindo assim que a
civilização Novan possa agora seguir seu curso, no hemisfério sul
do planeta. Travis Mayweather é o mais animado sobre o fato de eles
terem solucionado um mistério de 70 anos. Por isso, Archer pede que
ele escreva o relatório para a Frota Estelar, enquanto a Enterprise
se encaminha para sua próxima missão.
Comentários:
"Terra Nova" é o primeiro episódio,
além de "Broken Bow", a
ter uma história um pouco mais sofisticada do que um simples "high-concept".
É bem verdade que esse estilo está lá --uma história única,
simples, clara, no estilo "e se...?"--, mas os
desdobramentos vão um pouco mais além, tornando o enredo um pouco
mais intricado e interessante que o dos últimos dois episódios.
Entretanto, infelizmente o recheio é demasiado composto por
clichês para tornar este episódio um verdadeiro vencedor. A
premissa é interessante, e preenche mais uma lacuna história da
exploração inicial do espaço por seres humanos, mas não oferece
grande material para a audiência ou para a tripulação da
Enterprise.
Dessa vez, o maior
beneficiado, em termos de roteiro, é Archer. Finalmente o capitão
é retratado com um pouco mais de seriedade, e podemos acompanhar
seu estilo ágil e impulsivo de comando, mas ainda assim sem ser
precipitado ou fazer bobagens que qualquer astronauta em treino na
Nasa não cometeria. Finalmente Archer volta a preencher bem a
lacuna do capitão humanista da nave.
Alguns momentos são especiais para ver a dureza que é comandar uma
nave estelar --uma delas é quando ele perde o tenente Reed. Embora
ele diga muito pouco, podemos ver sua insatisfação contida,
graças a uma boa atuação de Scott Bakula. O segundo momento, esse
mais bem interpretado ainda, é quando, numa explosão de raiva,
Archer admite sua frustração de ter sido incapaz de fazer contato
pacífico com meros seres humanos --mesmo que eles estivessem
naquelas circunstâncias pouco ortodoxas.
T'Pol
perdeu, ao menos nesse episódio, o exagero na ironia, o que fez bem
ao personagem. O que também é possível perceber é que ela e
Archer começam a trabalhar como uma dupla, e não simplesmente como
dois opositores, sempre contrariando um ao outro. Interessante
observar como essa transformação do relacionamento dos dois está
sendo sutil --muito mais adequada do que a súbita transformação
dos Maquis em cordeirinhos em Voyager. Mais uma vez, ponto
para a continuidade e para a produção de Enterprise.
Dos outros personagens, Reed é o que mais se beneficia. Apesar da
aparição pequena, seus maneirismos e seu estilo continuam a ter
presença marcante na série. Em compensação, Mayweather continua
de mal a pior --apesar da aparente tentativa dos roteiristas de
fazê-lo mais interessante nesse segmento. O meio para isso,
entretanto, é totalmente artificial: não adianta simplesmente
dizer que o piloto é fissurado em mistérios espaciais como o de
Terra Nova; é preciso fazer com que ele se envolva com a história.
Não basta colocá-lo no grupo de descida e deixá-lo vigiando a
caverna e depois vigiando o shuttlepod. Seria muito mais
interessante, por exemplo, se ele batesse de frente com Archer,
usando de sua perspectiva única de viajante espacial experiente, na
hora de o capitão decidir qual deveria ser a ação junto aos
Novans. Faltou um pouco mais de audácia, ao personagem e aos
produtores.
Sato praticamente não teve importância, assim como Tucker, que
finalmente pagou pela exposição maciça que teve nos episódios
anteriores. Phlox, embora tenha aparecido razoavelmente, não fez
nada que pudesse marcá-lo no episódio.
Finalmente, ao
enredo. A história é um misto de algumas coisas que já vimos em Jornada,
mas com uma roupagem levemente diferente. Há uma noção muito
parecida com a apresentada no episódio clássico "Miri"
("crianças sobreviventes"). Inclusive, ouso pensar que o
paralelismo não é totalmente não-intencional. Veja as primeiras
cenas do grupo de descida em Terra Nova: Reed passa por uma roda de
bicicleta e a gira com o dedo, observando a rodar. A cena (incluindo
o ângulo e a expressão de Keating) é muito parecida com uma outra
vista em "Miri",
onde é o doutor McCoy gira uma roda de triciclo, momentos antes de
ser atacado por uma das "crianças".
Entretanto, a semelhança com "Miri"
acaba aí. Na verdade, a premissa toda é muito mais parecida com a
de "Friendship One", episódio da sétima temporada
de Voyager --o que é muito mais grave (se é preciso copiar,
melhor que seja um produto de 35 anos do que um de menos de um ano).
Até o desenrolar da história e a conclusão são muito
semelhantes. Em ambos, os terrestres são odiados por terem
supostamente destruído culturas em outros planetas; só que em "Friendship
One" eles eram "culpados"; em "Terra
Nova", não.
Os clichês da resolução da premissa são tão convenientes e
entediantes que acabam reduzindo em muito o potencial da história
como um todo. O relacionamento de "confiança forçada"
estabelecido entre Archer e Jamin para salvar o Novan preso debaixo
da árvore é mais velho que a televisão; também é igualmente
conveniente que apenas o hemisfério norte tenha sido afetado pelo
cometa, facilitando a realocação (e por consequência o
convencimento) dos Novans.
É esse tipo de solução forçada que prejudica o episódio. Ele
poderia ter sido muito mais desafiador, sombrio e interessante se
Archer acabasse sendo obrigado a abandonar os colonos para a morte
certa, para respeitar sua cultura e seu livre arbítrio. Entretanto,
Enterprise não está sendo conduzida para um lado "dark"
e polêmico; aparentemente, tudo precisa acabar bem no fim de cada
episódio. Essa atitude leva inevitavelmente a forçadas de barra
ocasionais como esta.
Do ponto
de vista técnico, o episódio continua mantendo o alto nível do
restante da série. Apesar de não termos um disbunde de efeitos
especiais, como nos segmentos anteriores, "Terra Nova"
compensa com toques interessantes, como os "tatus" do
planeta, que fornecem alimento, ferramentas e vestimentas para os
Novans, e a maquiagem, brilhante como de costume, apesar de mais
simples do que anteriormente. Mas o maior destaque técnico vai para
a trilha musical do episódio, que está acima da média --incluindo
a canção tocada pelos Novans na caverna, que traz sonoridade e
sentimento semelhantes à melodia de Picard em "The Inner
Light". É música para colocar em CD, sem dúvida.
Citações:
Tucker - "Really?
Every school kid on Earth has learned about the famous Vulcan
expeditions..."
("Sério? Toda criança na Terra aprendeu na escola sobre as
famosas expedições Vulcanas...")
T'Pol - "Name one."
("Mencione uma.")
Tucker - "... er, History was never my best subject."
("... er, História nunca foi minha matéria favorita.")
Archer - "If I can't make first contact with other humans...
then I have any business being out here."
("Se não consigo fazer primeiro contato com outros humanos...
então não tenho nada a fazer aqui fora.")
Trivia:
Erick Avari já apareceu antes em Jornada, como o Klingon B'Ijik,
de "Unification,
Part I" (A Nova Geração), e como o vedek Yarka,
de "Destiny" (Deep Space Nine).
Esse é o primeiro episódio de Enterprise dirigido por um
ex-ator de Jornada, LeVar Burton (Geordi La Forge). Burton
já dirigiu para as séries modernas do franchise, e é considerado
um dos mais talentosos diretores saídos do elenco de A Nova
Geração, junto de Jonathan Frakes.
Esse também é o primeiro episódio da série a não mostrar
Porthos, o cãozinho beagle do capitão Archer.
Ficha
técnica:
Escrito por Rick Berman &
Brannon Braga
Direção de LeVar Burton
Exibido em 24/10/2001
Produção: 006
Elenco:
Scott
Bakula como Jonathan Archer
Jolene Blalock como
T'Pol
John Billingsley
como Phlox
Anthony Montgomery
como Travis Mayweather
Connor Trinneer como
Charlie 'Trip' Tucker III
Dominic Keating como
Malcolm Reed
Linda Park como Hoshi Sato
Elenco convidado:
Erick Avari como Jamin
Mary Carver como Nadet
Brian Jacobs como Athan
Greville Henwood como Akary